domingo, 11 de outubro de 2015

Câncer: Reflexão da vida?

 (Foto: internet/reprodução)
Passo em frente ao hospital do câncer (INCA) todos os dias na ida ao trabalho.  Vejo sempre a dor e o sofrimento nos rostos das pessoas, sejam elas as doentes ou seus parentes. Ouço também comentários (de dentro do ônibus onde estou) que, junto aos meus próprios: "esse lugar é triste, quanto sofrimento!".

Sei bem o que é estar em um hospital, passar dias nele, já estive em vários quando criança, por causa da artrite.  Mas, esse, em especial, nos causa uma sensação de "fim de linha", de "dias contados".  Receber um diagnóstico de câncer é datar a morte, segundo alguns. Além do sofrimento causado pelo tratamento, é preciso lidar com a ideia de finitude da vida, coisa que o mais letrado e cético dos mortais ainda não sabe fazê-lo.  E, talvez essa seja a nossa maior tragédia.  Afinal, se fosse possível tratar ou curar todos os tipos de câncer e nos livrar do espectro da morte, estaríamos mais confiantes. 

Mas, essa postagem não estaria aqui se não pudéssemos tirar alguma coisa boa, algum ensinamento disso tudo.  A morte é inevitável e ela virá, mais cedo ou mais tarde.  E ter conhecimento que ela está próxima é o que nos apavora.  E, isso pode ser diferente? 

Para muitos que sobreviveram ao tratamento, geralmente acontece uma mudança de vida.  Aproveita-se melhor cada momento, dedica-se mais às coisas que realmente valem à pena.  Muitos dos que não têm chance de cura, aproveitam para estar com entes queridos ou fazer o que mais gostam.

Há poucos meses um médico britânico disse que câncer é a "melhor morte", "você pode dizer adeus, refletir sobre a vida, deixar mensagens, visitar lugares especiais pela última vez, ouvir as músicas favoritas, ler poemas e se preparar, de acordo com suas crenças, para encontrar seu criador ou curtir o esquecimento eterno". Polêmicas à parte, é o que fizeram algumas pessoas com diagnóstico de câncer terminal. 

Perdi há alguns anos atrás, o meu pastor (sou batista), líder carismático, inteligente, muito querido por nossa igreja.  Foi diagnosticado com câncer terminal muito agressivo.  Após inúmeros tratamentos (oficiais e em teste) a batalha foi perdida e sua vida reduzida a 3 meses (contrariando o prognóstico, viveu bem mais de um ano). Durante esse período aproveitou seu tempo com os amigos, com os irmãos em Cristo, com seus familiares, aconselhou seus filhos e despediu-se da esposa. Despediu-se de sua igreja, num dos cultos mais lindos que já fiz parte, cantou, chorou, sorriu, viveu, partiu. 

Há um ano atrás também perdi uma das mais queridas e competentes fisioterapeutas que eu conheci.  Após o diagnóstico de câncer no pulmão, bem agressivo, também fez tudo que pôde para vencê-lo. Enquanto se tratava dedicou-se a fazer tudo que não tivera tempo de fazer ainda. Viajou, fez um curso que sempre teve vontade de fazer, dedicou-se ao filho, à família e aos amigos; continuou firme em seu trabalho, dando cursos e incentivando os novos fisioterapeutas, o que mais gostava de fazer. Compartilhou sua história, viveu, despediu-se, partiu. 

Em seu livro "Por Um Fio", o médico Drauzio Varella, mostra, através de diversos relatos de pacientes com câncer, como a perspectiva da morte pode revelar inesperados sentidos para a vida.  Então, se é possível, por meio do sofrimento e da dor, tirar algum aprendizado, que este seja libertador, ou divisor de água, que dê mais sentido ao que estar por vir, sendo este imediato ou não. E, que a esperança, esta sim esteja sempre conosco.

domingo, 23 de agosto de 2015

APELANDO PARA TODOS OS SANTOS

Acho que qualquer pessoa que já teve alguma doença crônica na infância já teve uma mãe que apelava para todas as formas de cura ou qualquer coisa que minimizasse as dores e sofrimento do filho ou filha.  A minha não podia ser diferente.

O envolvimento da minha família nesse processo sempre foi total.  Todos, de tios à avó, de alguma forma contribuíram para que eu tivesse o mínimo impacto negativo da doença.  Na década de 70, início da minha artrite, o conhecimento e o tratamento eram quase nenhum, ainda mais na cidade de São Luis, com muito pouco recursos.

Portanto, de beberagens à cirurgia espiritual, eu experimentei de tudo.  Nem sempre com o meu total consentimento, mas sempre na esperança de que a qualquer momento sairia andando sem dor e sem deformação alguma nas articulações.  Isso nunca aconteceu, mas também nunca me deixou traumatizada.  Acredito até que de uma forma ou de outra todas essas ajudas me tornaram quem sou hoje.

A minha memória é muito falha, já que só tinha uns 5 anos na época, mas lembro perfeitamente das beberagens que minha avó (com um pouco de seus conhecimentos indígenas) preparava para mim.  Não faço ideia do que eram feita, mas não posso sentir cheiro de bebida alcoólica que me lembro desse tempo, em que eu tinha que tomar o preparado e tomar banho frio.  Até hoje odeio banho frio!

No final dos anos 70 mudei para o Rio de Janeiro, vim morar com minha mãe que já havia vindo trabalhar  como doméstica na Cidade Maravilhosa. Era o início de novas possibilidades na cidade grande e com muito mais recursos para o tratamento da artrite.  Eu tinha 9 anos de idade, uma saúde muito frágil e a doença em plena atividade.

Lembro-me de certa vez ter ido a uma igreja evangélica, levada por senhor muito bondoso (que trabalhava na mesma casa de minha mãe).  Lá, orações foram feitas, espíritos maus expulsos (se houvesse algum) e voltamos.  Não senti nenhuma melhora no quadro geral.  Orações evangélicas  sempre fizeram parte do meu cotidiano quando morava com minha tia, em São Luis.  Ela sempre foi da Assembleia de Deus e, portanto, estávamos todos os domingos na igreja.  Além dos cultos tradicionais participávamos dos círculos de orações e na pauta sempre havia uma oração pela minha saúde.  Lembro que já adolescente, em férias (passava todas as férias em São Luis), fui levada à casa de "uma irmã" que orava e curava. Ao sair de lá fui informada que havia sido curada, bastava que eu cresse.  Acordei durante semanas esperando uma cura milagrosa, como não acontecia achava que não havia tido fé suficiente. Depois de um tempo parei de pensar no assunto.

Em torno dos 11 anos fiz minha primeira cirurgia no quadril, isso me fez parar de usar muletas, motivo pelo qual minha mãe foi pagar promessa à Nossa Senhora da Penha, no Rio de Janeiro.  Sempre digo que mãe faz promessa para o filho pagar.  Pois, eu tive que subir os 365 degraus da igreja segurando uma vela do meu tamanho em agradecimento ao sucesso da cirurgia. Com certeza, subir todos esses degraus já podia ser considerado um milagre!

Por fim, mas nunca por último, porque meu nome sempre está em algum grupo de oração, me fizeram uma cirurgia espiritual.  Fui operada por algum espírito que não sei qual.  Mas, não precisei ir ao centro espírita, foi em casa mesmo, no horário determinado.  Sinceramente, nunca soube se houve alguma diferença.

Fui católica até os 19 anos, depois me converti ao protestantismo e nele estou até hoje. Não me lembro (salvo os dias de desespero de dores) de ter pedido para ser curada, de forma milagrosa.  Mas, sempre pedi por médicos, medicamentos e tratamentos eficientes e as condições de usá-los. Hoje tenho tudo isso, e nisso que me seguro.  E, tenho certeza, que é através deles, e das diversas orações das pessoas que me amam, que Deus cuida de mim.


1.http://revistagrandestemas.blogspot.com.br/2010/05/religioes-texto-de-jeane-batista-aborda.html